Atualmente, saber o funcionamento básico da economia e o manuseio do dinheiro é uma habilidade primordial para aqueles que anseiam entrar no mercado de trabalho. A Fundação Econo visa trazer essa temática tão importante para mais perto dos jovens. Visto isso, o assunto a ser abordado contará um pouco mais sobre a trajetória capitalista e como esta se relaciona com a religião.
Capitalismo e as Revoluções Burguesas
O capitalismo é, sobretudo, um aspecto essencial para a configuração da base econômica da nossa sociedade. Mas como é possível que a economia capitalista esteja ligada à religião? Bem, essa relação começa no século XVII, com as famosas revoluções burguesas. Na verdade, o assunto é ainda mais profundo: se trata do capitalismo associado a um ramo do cristianismo.
O primeiro desenvolvimento capitalista se deu no Ocidente, mais especificamente, na França e na Inglaterra. Por coincidência, as primeiras revoluções burguesas ocorreram justamente nesses países. Entretanto, essa pode não ser uma mera coincidência…
O Protestantismo na Estruturação Capitalista
A maioria da população francesa era católica à época, todavia, os principais atores da tomada de poder - os burgueses - eram protestantes. Paralelamente, a Inglaterra tinha uma maioria protestante. A partir desses dados, podemos traçar uma correlação entre o processo de constituição capitalista e o protestantismo: este último foi, de fato, um fator decisivo para a estruturação do modelo de produção em que vivemos.
A priori, o protestantismo pressupunha um elemento muito diferente do catolicismo: a valorização do trabalho, principalmente na doutrina calvinista, formada a partir dos desdobramentos das reformas protestantes. A Igreja católica pregava que o trabalho era amaldiçoado e que só deveria existir mediante sua prática para o sustento, exclusivamente. Outrossim, o lucro era visto como o pecado da usura, e disseminava-se a ideia de que Deus condenava o trabalho. Algumas passagens bíblicas ilustram essa crença, como a de Adão e Eva, que comeram do fruto proibido e pagaram por tal violação com o trabalho. Além disso, os próprios gregos desprezavam-no, como cita Platão:
“É próprio de um homem bem-nascido desprezar o trabalho.”
Como um todo, essa prática era mal-vista socialmente. A título de curiosidade, a palavra "trabalho" veio do latim tripalium, um instrumento de tortura.
Por outro lado, sob a ética protestante, a profissão era tida como uma vocação por meio da qual o ser humano poderia alcançar a salvação. Dessa forma, o trabalho seria um meio de combater o ócio e de não desperdiçar o tempo dado por Deus. O sociólogo Max Weber (1864 - 1920) foi o responsável por estudar as religiões de tal modo, trazendo uma nova perspectiva a respeito do desenvolvimento capitalista.
Como supracitado, na ética protestante destaca-se o calvinismo. Este foi uma doutrina cuja singularidade consiste no agrupamento dos seguintes atributos, simultaneamente: livre interpretação da Bíblia, realização de dois sacramentos, cultos na língua nacional, não hierarquização da Igreja e teoria da predestinação - em que o homem seria predestinado ou à salvação, ou à danação.
Avanço Racionalista
Um dos pontos passíveis de serem ressaltados a respeito da relação capitalismo-protestantismo é o avanço do pensamento racionalista. O século XVI foi marcado pelo início das ideias renascentistas, que pressupunham uma maior racionalidade no que tange à organização social e trabalhista. Assim sendo, também foi estimulada a racionalidade na economia.
A palavra "economia" deriva do grego oikonomia; oiko significa casa, e nomia, lei. Oikonomia, por sua vez, é um termo baseado em oeconomus, oriundo do latim.
Em suma, se mostra clara a dependência entre a evolução capitalista e o protestantismo. Dessa forma, é possível entender os antecedentes que propiciaram a formação da economia como ela é, hoje. Como disse Max Weber:
“[o protestantismo pode ser considerado] a semente da economia capitalista.”
Por meio do presente artigo, a secretaria acadêmica da Fundação Econo anseia que os senhores possam ter um melhor entendimento acerca da relação entre o capitalismo e o protestantismo. Em caso de quaisquer dúvidas ou questionamentos, nos colocamos à disposição nas redes sociais, em especial, no Instagram (@economum.oficial).
Autoria de: Luana Rosa Fonseca Costa, Staff Acadêmica da Fundação Econo.
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COSTA, Luana Rosa Fonseca. Uma convergência entre Religião, Capitalismo e Economia. Fundação Econo, 2021. Disponível em: <https://sites.google.com/view/fundaoecono/blog-e-artigos>.
Referências
LAZZARO, João Guilherme Santos. Religião e economia: o que dizem os economistas desde Weber. In: Terraço Econômico: O seu portal de economia e política!. 1. 1. ed. Terraço Econômico: Terraço Econômico, 10 ago. 2014. Disponível em: https://terracoeconomico.com.br/religiao-e-economia-o-que-dizem-os-economistas-desde-weber/. Acesso em: 12 set. 2021.
COSTA, Eduardo José Monteiro da. Sobre o surgimento da ciência econômica. 1. 1. ed. Capitalismo.blogspot: João Melo, 14 jun. 2011. Disponível em: http://economiaecapitalismo.blogspot.com/2011/06/sobre-o-surgimento-da-ciencia-economica.html. Acesso em: 12 set. 2021.
FARAONI, Alexandre et al. Ser Protagonista Sociologia. Volume único. 2. ed. atual. São Paulo: Edições SM, 2014. 376 p. v. 1. ISBN 978-85-418-0587-2.